No entanto, a mudança de definições não provocou alterações significativas no modo de pensar dos cartógrafos. Os dualismos ainda persistem, principalmente quanto arte e ciência, ciência e técnica, e revela diferenças que formam opiniões diversas. Entre as várias definições destacamos as seguintes: Fritsch (1990) define como a ciência e a técnica de representações de dados espaciais, incluindo as instruções de como utilizar tais representações cada vez mais transformadas espacialmente, considerando-se os sistemas de informações geográficas. Para Joly (1990), é a arte de conceber, de levantar, de redigir e de divulgar os mapas.
Segundo Taylor (1994), é a disciplina que trata da organização, apresentação, comunicação e utilização da geo-informação nas formas gráfica, digital ou tátil incluindo todos os processos, desde o tratamento dos dados até o uso final na criação de mapas e produtos relacionados com a informação espacial. É interessante observar que apesar dos autores apresentados pertencerem a um mesmo momento histórico de desenvolvimento da Cartografia, apresentaram definições totalmente diferenciadas.
Entre os autores brasileiros, destacamos duas definições: Barbosa (1967), que define a Cartografia como uma área auxiliar para as ciências e Sanchez (1981), como uma ciência entre as ciências e ao mesmo tempo, um instrumento das ciências que direta, ou indiretamente, se preocupam com distribuições espaciais.
As concepções apresentadas sobre a definição de Cartografia retratam sobretudo posturas teóricas e metodológicas diferentes. Verificamos ao longo do tempo - principalmente nos últimos anos sob a influência de novos recursos tecnológicos - que o conceito passou a considerar a possibilidade de elaboração dos mapas e de outros documentos cartográficos, não somente na forma analógica, mas também digital. Isto deu origem à utilização de uma nova linguagem como computação gráfica, cartografia automatizada ou cartografia digital.
No entanto, os princípios básicos da Cartografia permanecem válidos e a sua divisão em dois campos - sistemática e temática, continua valendo. O quadro 1 apresenta outras terminologias adotadas por diferentes autores para caracterizar os mapas nestes dois campos.
Terminologias utilizadas na classificação dos mapas em cartografia sistemática e temática
Autor |
| Cartografia sistemática |
| Cartografia temática |
Raisz (1969) |
| Mapas gerais |
| Mapas especiais |
Robinson apud Barbosa (1967) |
| Mapas topográficos |
| Mapas de compilação |
Barbosa (1967) |
| Mapas topográficos |
| Mapas especiais e Mapas temáticos |
Deetz (1948) |
| Mapas topográficos oficiais |
| Mapas de fins especiais |
Sanchez (1973 e 1981) |
| Mapas de base ou de referência geral |
| Mapas temáticos |
Simielli 1986 |
| Mapas topográficos |
| Mapas temáticos |
Rosa (1994) |
| Mapas de base |
| Mapas temáticos |
O campo da cartografia sistemática é bem definido pois por razões históricas, constitui-se segundo Rosa (1996), na ciência responsável pela representação genérica da superfície tridimensional da Terra
Utiliza convenções e escalas padrão, contemplando à execução dos mapeamentos básicos que buscam o equilíbrio da representação altimétrica e planimétrica dos acidentes naturais e culturais, visando
1) Escala grande - mapas urbanos em 1:500, 1:1.000, 1:2.000 e 1:5.000;
2) Escala média - mapas topográficos em 1: 25.000, 1:50.000, 1:100.000 e 1:250.000;
3) Escala pequena - mapas geográficos em escalas 1:500.000 e menores.
De acordo com as normas da legislação cartográfica em vigor, estabelecidos no decreto-lei n.º 243/67, que regulamenta as Diretrizes e Bases da Cartografia e da Política Cartográfica Nacional, a cartografia sistemática tem por fim a representação do espaço territorial brasileiro por meio de cartas, elaboradas seletiva e progressivamente, consoante prioridades conjunturais, segundo os padrões cartográficos terrestre, náutico e aeronáutico.
A discussão
A cartografia temática aborda a Cartografia como um instrumento de expressão dos resultados adquiridos pela Geografia e pelas demais ciências que têm necessidade de se expressar na forma gráfica. Rosa (1996) ressalta que a cartografia temática tem como preocupação básica a elaboração e o uso dos mapeamentos temáticos, abrangendo a coleta, a análise, a interpretação e a representação das informações sobre uma carta base. Importa-se mais com o conteúdo que vai ser representado no
Os temas analíticos podem ser obtidos por correlação entre vários temas elementares ou entre séries estatísticas. São representados a partir da utilização da técnica mais conveniente, objetivando a melhor visualização, incluindo, além de mapas, outras formas de representação como gráficos, blocos diagramas e croquis.
Sobre a caracterização destes dois campos da Cartografia contemporânea, podemos destacar outros autores como Raisz (1969) por exemplo, que classificou os mapas em gerais e especiais. Os primeiros seriam exclusivamente de representação da superfície da Terra, com os acidentes geográficos, planimétricos e topográficos, independentemente da escala.
Os mapas especiais seriam os políticos, urbanos, de comunicações científicas, econômicos, artísticos, de
Segundo Barbosa (1967), os mapas com os mais variados temas são chamados de mapas temáticos. Ele sugere até uma
Mesmo considerando essa diferença básica entre os dois campos da Cartografia, Sanchez (1981) afirmou ser impossível estabelecer uma linha divisória entre a cartografia sistemática e a temática pois, em muitos casos, as diferenças são sutis. Existem áreas de interpretações nas quais a superposição de mapas temáticos e mapas de base são inevitáveis.
Na tentativa de caracterizar a cartografia temática diferenciando-a da sistemática, baseado em Sanchez (1981).
Principais diferenças entre cartografia sistemática e cartografia temática
Cartografia sistemática |
| Cartografia temática |
Mapas topográficos com a representação do terreno |
| Mapas temáticos que representam qualquer tema |
Atendem a uma ampla diversidade de propósitos |
| Atendem usuários específicos |
Podem ser utilizados por muito tempo |
| Geralmente os dados são superados com rapidez |
Não requerem conhecimento específico para sua compreensão. Leitura simples |
| Requerem conhecimento específico para sua compreensão. Interpretação complexa. |
Elaborados por pessoas especializadas em cartografia |
| Geralmente elaborados por pessoas não especializadas em cartografia. |
Utilizam cores de acordo com a convenção estabelecida para mapas topográficos |
| Utiliza cores de acordo com as relações entre os dados que apresenta |
Uso generalizado de palavras e números para mostrar os fatos |
| Uso de símbolos gráficos, especialmente planejados para facilitar a compreensão de diferenças quantitativas e qualitativas |
Sempre servem de base para outras representações. |
| Raramente servem de base para outras representações. |
As informações desse quadro, evidenciam que a fronteira entre cartografia temática e sistemática não é tão bem definida. Dependendo da situação, um mapa pode ser classificado como temático ou sistemático. Entretanto, Joly (1990) elucida
Rosa (1996) ressalta que em qualquer um dos campos da Cartografia, a coleta, o
Atualmente, mesmo considerando que a cartografia temática está muito mais ligada à Geografia do que a cartografia sistemática, e que não é exclusiva da Geografia, ela é reconhecida como a Cartografia da Geografia, como escreveu Lacoste (1988). Ele deixou claro que não é possível relacionar à Geografia a elaboração de cada um dos diferentes tipos de mapas resultantes de pesquisas realizadas por geólogos, botânicos e climatólogos entre outros. Por outro lado, ressaltou que se considerarmos conjuntamente os diferentes tipos de mapas temáticos que representam um mesmo território, parece legítimo, considerá-los como objetos geográficos.
Neste trabalho, Lacoste levanta a seguinte questão sobre os mapas:
Por que é necessário procurar considerar conjuntamente as representações espaciais estabelecidas pelas diferentes disciplinas científicas?
E responde, enfatizando a relação da Geografia com a Cartografia :
Porque a ação, seja ela do tipo econômico ou militar por exemplo, não se aplica, na realidade, sobre um espaço abstrato cuja diferenciação resulta da análise de uma só disciplina, mas sobre um território concreto cuja diversidade e complexidade só podem ser extraídas por uma visão global.
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